Técnico brasileiro comandará Iraque na Copa da Ásia

Um brasileiro comandará a seleção de futebol do Iraque na estréia da equipe na Copa da Ásia, neste sábado.

O desafio do técnico Jorvan Vieira, 54, é melhorar o desempenho do time cuja melhor colocação no torneio continental foi um 4º lugar no longínquo ano de 1976, ano em que a Copa da Ásia foi disputada no Irã.Às 19h35 locais (9h35 em Brasília), o escrete iraquiano disputa o jogo de estréia, em Bangcoc, contra o adversário da casa, a Tailândia.De forma inédita, o torneio terá quatro sedes: Tailândia, Malásia, Indonésia e Vietnã.

“É difícil treinar a equipe de um país em guerra”, disse ele à BBC Brasil, por telefone, da capital tailandesa.”O dia-a-dia é normal como em qualquer outra seleção, só que às vezes a gente vê que as pessoas estão mais estressadas. Os jogadores estão aqui e de repente algum parente ou familiar pode estar sendo morto no Iraque.

‘Em casa’Há 30 anos, o brasileiro filho de portugueses, casado com uma marroquina, gira o mundo treinando selecionados nacionais, sobretudo no Oriente Médio.

Jorvan Vieira já comandou equipes tão diversas quanto o Marrocos (durante a Copa do México de 1986), Omã, Malásia, Kuwait e Egito, além de times de primeira e segunda divisão em Portugal.Com apenas 30 dias à frente do Iraque, no fim do mês passado, levou para casa um honroso segundo lugar na Copa do Oeste da Ásia, perdendo a finalíssima para o favorito Irã por 2 a 1.

“Quando eu disse à minha mulher que ia treinar o Iraque, ela ficou um pouco assustada, mas entendeu. Eu tinha a garantia de que iria para Amã, na Jordânia, onde acontecia a Copa do Oeste e onde era a nossa concentração”, contou o treinador.”Era como se estivéssemos em casa”, disse Jorvan, que já se declara “à vontade” entre os jogadores e a torcida do Iraque.Animados pelos resultados, os fãs mais festivos entre os cerca de 1,2 milhão de iraquianos que vivem na Jordânia “não saíam da porta do hotel” durante a Copa do Oeste da Ásia, afirmou o brasileiro.

Guerra e futebol
Vieira se diz ‘à vontade’ com o carinho da torcida iraquianaO apoio da torcida compensa parte das dificuldades de treinar o time de um país imerso em conflito civil.”O problema não é só a guerra, são as milícias, que ameaçam as pessoas de morte. E elas têm de fugir para o interior, onde não têm trabalho nem escola para os filhos, ou para o exterior”, relata Vieira.

A maioria dos jogadores da seleção iraquiana vive em outros países, especialmente Síria, Arábia Saudita e Jordânia. Entretanto, os tempos atuais não favorecem o deslocamento internacional dos atletas.”Na imigração (ao chegar em um país), eu sempre passo e depois fico do outro lado esperando eles passaram”, conta Vieira.”Dá pena, porque as autoridades olham as pessoas do Iraque como se todo mundo fosse terrorista, como se todo mundo fosse homem-bomba.”

O técnico diz que dentro de sua equipe não se discute política – “eles são jogadores, não são pessoas que normalmente discutem política” – e que as tensões sectárias que alimentam atentados contra civis em Bagdá não afetam a seleção nacional.”Aqui tenho xiitas e sunitas, e eles se dão super-bem. Não tem nada a ver, as milícias tomam conta de tudo lá no Iraque, mas aqui não tem tensão.”

Uma vez, Vieira foi ao Iraque. Assistiu a um jogo no Curdistão, ao norte do país, e diz que se impressionou com a “tranqüilidade” do local.”Lá no Curdistão é tudo gerido pelos curdos, eles têm o Exército curdo, tá tudo tranqüilo. Você não sente a menor sensação de perigo. Em Bagdá é que o problema é agudo, ali realmente não dá para jogar bola.”Pelos termos acertados com a federação iraquiana de futebol, o contrato de Vieira termina assim que seu time estiver desocupado do Copa da Ásia.

Ele afirma que não pretende continuar à frente da equipe, porque a intenção original era cumprir apenas os 60 dias previstos no entendimento.’Aqui se dá valor à vida. É uma grande experiência.'”Não pretendo ficar porque tenho outras propostas. Devo continuar trabalhando no Oriente Médio. É aqui que sou conhecido.”Quando ele se despedir da seleção do conturbado Iraque, acredita, levará consigo uma lição: “Aprendi que aqui se dá mais valor à vida. É uma grande experiência”. 

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